Qual a identidade?
Por João Paulo Costa Jr. e Raphael Jota
Modernas Transformações
A identidade está sempre em formação sendo criada ao longo dos anos num contínuo processo de mudança. Na modernidade e especialmente no âmbito religioso, não é diferente. E hoje talvez os processos de mudanças dos indivíduos sejam ainda mais acentuados, na medida em que é assimilado um grande volume de informações culturais e de novas tendências. Estas tendências num mundo extremamente individualista podem gerar “crises de identidade” e necessidades de alguns em não viver na materialidade egóica dos dias modernos.
Afirmando identidades
Os indivíduos, para se afirmarem como tal, buscam viver uma vida pautada na diferença. Sob este aspecto, a sensibilidade dos toqueiros recupera velhos elementos tradicionais e cria novas formas estéticas de expressões, que reafirmam a necessidade de apaziguar conflitos interiores do indivíduo. E pelo que verificamos, o processo de afirmação da identidade dos toqueiros subentende novas escolhas de perspectivas de vida, ideologias, valores, costumes e modo de viver pelos exemplos cristãos.
É fácil observar grupos que se juntam por afinidades para criar uma identidade coletiva e ao final uma identidade singular, una e personalíssima. A exemplo dos toqueiros, os punks, os emos, os surfistas, osskin heads, as juventudes evangélicas, os skatistas, os metaleiros, os clubers, os agroboys, os regueiros,entre muitos outros grupos, todos se juntam por afinidades para se afirmarem na construção e na desconstrução de suas identidades pautadas por valores que lhes são peculiares. São modismos, cabelos diferentes, roupas e indumentárias incomuns para chocar, afirmar ou reafirmar a fragmentação de velhos e novos valores de nossa sociedade que estão sendo constantemente absorvidos, reinventados ou sublimados.
Após todo o processo de postulação e consagração, os filhos e filhas da pobreza do santíssimo sacramento deixam seus nomes civis para trás, passando a assinar um nome religioso e personificar nele próprio os ideais da vocação que sentiram pulsar em seus corações e espíritos. Em cima deste mesmo nome religioso encontram e afirmam suas identidades na medida em que (ao nosso ver), preenchem lacunas de uma outra identidade que existia anteriormente.
A ruptura e desconstrução
Em nossa visão de leigos, os irmãos e irmãs não só deixam suas famílias, carreiras profissionais e amores para trás. Numa ruptura visceral, assumem a postura de uma vida consagrada a favor do próximo, descontruindo o que viveram outrora e embasados nos votos de pobreza, castidade e obediência controem uma identidade “reformada” com um apelo racional fortíssimo de mudança de postura ao assumirem uma concepção de identidade diversa do que a sociedade atual nos cobra viver.
Assim, indo ao contrário da maioria dos jovens, os toqueiros reinventam valores antigos de linguagens para se afirmarem na atualidade com novas formas de relacionamentos com a materialidade, com o sexo e o sagrado, sempre pelo viés da emoção e fé, rompendo o pré-estabelecido.
Os ícones de referência
Para se afirmarem, ao nosso ver, os toqueiros e irmãs da pobreza vêem seus sacrifícios como o arcabouço de suas identidades nutridas por uma certa veneração ao Pe. Roberto Lettieri, visto como um santo vivo. Estes jovens cultuam São Francisco de Assis e Lettieri como exemplos. Mas será que os outros grupos também não fazem o mesmo? À sua maneira, lógico, mas também cultuam ídolos do rock, da música, da política, da arte, da televisão, do ramo dos negócios etc, sempre buscando modelos de referência. A diferença entre os toqueiros e outro grupo qualquer talvez seja somente o apelo à religiosidade. Mas, todos buscam referências comportamentais de acordo com o que pensam e almejam da vida.
O crescimento da Toca
Após quase quinze anos de vida, a Toca de Assis no Brasil encontra-se em franco crescimento. Acreditamos que isto se deve ao fato de que é uma fraternidade que inspira aos jovens seguidores, novas e velhas expressões de comportamento com modelos ideológicos reinventados e adaptados para os dias atuais. Talvez consigam passar respostas concretas para as buscas de referências destes jovens, que se afinam com o ideal cristão e com um modelo comportamental, a partir do qual contestam também o mundo plural em que vivemos.
A pergunta é:
É válido contestar a personalidade que os toqueiros tinham antes de se consagrarem na Fraternidade?
Explicamos: antes de se consagrarem eles eram Rodrigos, Natálias, Jefersons e Jéssicas. Após a consagração, eles assumem outro nome: um nome religioso. E aí deixamos o questionamento: esta postura de materializar outro nome e novas posturas constrói ou desconstrói a identidade primeira que eles possuíam? E a bagagem que traziam antes ainda os influencia? Quem teve experiências em ter bens materiais, carreiras profissionais e experiências sexuais consegue se desvencilhar totalmente do mundo anterior, em face dos votos de castidade, pobreza e obediência?
Essas são questões que essa primeira aproximação não é suficiente para respondê-las, mas esperamos que como estudantes de jornalismo possamos sempre fomentar e levantar discussões em torno da sociedade em que vivemos.
Fonte de pesquisa: HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª ed.Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2006.